A Renata Lozano, aluna da ATP e graduanda em Medicina Veterinária, elaborou um artigo intitulado Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide que pode contribuir imensamente para o seu conhecimento sobre o assunto.
Confira o artigo na íntegra:
A sigla ICSI vem do inglês Intracytoplasmic Sperm Injection, que no português significa Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide, sendo uma biotecnologia de reprodução assistida que consiste na introdução de um único espermatozoide no interior do citoplasma do oócito maturado em in vitro, após sua recuperação na égua doadora, geralmente realizado por Aspiração Folicular Transvaginal Guiado por Ultrassom in vivo ou coleta com aspiração folicular post mortem.
A ICSI ganha maior importância na indústria brasileira a partir do crescimento da equinocultura no país. Em 2018, essa área movimentou cerca de R$ 16,5 bilhões com emprego direto de 3,2 milhões de pessoas, segundo a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo.
Desta forma, verifica-se a importância do Brasil quando se trata de produção de equinos, sendo necessário obter um desenvolvimento genético importante com a ajuda das biotecnologias atualmente empregadas.
Uma das vantagens na ICSI é a possibilidade de utilizar garanhão subfértil, com degeneração testicular devido à idade ou aqueles que vieram a óbito e tem amostras limitadas de sêmen congelado (SQUIRES, 2009). Desta forma, a genética de um garanhão importante no mundo equestre poderá ser utilizada se alguns dos eventos acima for relatado, podendo perpetuar sua genética para as próximas gerações.
Vale ressaltar que a ICSI se inicia com a Aspiração Folicular Transvaginal guiada por ultrassom (OPU) com o animal sedado em estação no tronco de contenção, onde um médico veterinário habilitado para a realização desta técnica utiliza uma guia, contendo uma probe convexa e uma agulha com duplo lúmen. Por palpação transretal o veterinário direciona o ovário para o fundo da vagina onde estará localizada a probe para obter a imagem dos folículos. Após introdução da agulha pelo fundo da vagina no folículo por sistema de 3 vias, é realizada a lavagem e recuperação oocitária com Solução Salina Tamponada de Fosfato (PBS) com 10 UI/ml de Heparina à 37ºC com sistema de aspiração acoplado em uma bomba de vácuo com recipiente (aquecido a 37ºC) onde os oócitos serão armazenados durante o processo. Vale ressaltar que a pressão da bomba de vácuo deverá variar entre 90 mmHg a 400 mmHg. Sendo que, caso o procedimento seja realizado com pressões altas, pode lesar ou causar o desnudamento nos oócitos (RODRIGUES, 2006).
Nesse procedimento, vários folículos poderão ser perfurados e sua cavidade lavada, o que aumenta a taxa de recuperação oocitária para 46,4% (MARI et al., 2005) se comparados com folículos que não são lavados, sendo a maior taxa de recuperação quando as éguas estão em estro, variando entre 70 e 80%, quando realizada imediatamente antes da ovulação (COUTINHO DA SILVA et al., 2002; ULIANI et al., 2009 apud BERTOZZO et al., 2014). Já com folículos imaturos essa taxa fica em torno de 20%, uma vez que as células do cumulus oophorus estão mais aderidas à parede folicular (CARNEVALE; MACLELLAN, 2006 apud BERTOZZO et al., 2014).
Uma das diversas vantagens da OPU é que pode ser classificada como um método pouco invasivo, podendo ser realizado diversas vezes na mesma égua, com período de 15 dias entre os procedimentos, não afetando sua fertilidade (MARI et al., 2005).
Após a aspiração folicular, esse lavado será filtrado em filtro para OPU, oportunidade em que o recipiente deverá ser lavado no mínimo 3 vezes, garantindo que não fique oócitos em seu interior. O conteúdo do filtro deve ser colocado em uma placa de petri onde serão localizados os oócitos por meio de um estereomicroscópio binocular, também conhecido como lupa.
A ICSI é realizada com materiais apropriados descritos com detalhes no trabalho escrito por Lazzarini et al. (2020) onde espermatozoides são selecionados e imobilizados por meio de pulsos piezo. É, então, realizado um corte que rompe a membrana celular, liberando o espermatozoide diretamente no ooplasma. Esses oócitos injetados são cultivados em meio SOF-IVC modificado suplementado com albumina sérica bovina e aminoácidos (LAZZARI et al., 2020).
A taxa de sucesso para gestações com realização da ICSI confirmadas com 50 dias é de 43,5% ±1,3% com éguas da raça Árabe e embriões de 9 dias transferidos para as receptoras logo após seu cultivo in vitro, em estudo realizado por Lazzari et al. (2020). Para embriões congelados nos dias 7 e 8 de cultivo, a taxa de prenhez com 50 dias foi de 46 a 49% contra 32% de embriões congelados com 9 dias.
Desta forma, podemos concluir que a técnica de reprodução assistida em equinos ainda pode evoluir muito, haja vista as características específicas dos equinos que dificultam tais técnicas. Tanto a técnica da OPU como todos os procedimentos laboratoriais devem ser realizados de forma minuciosa, respeitando todos os processos e detalhes que devem ser realizados para o sucesso da técnica.
Os embriões podem ter dois destinos, sua transferência para uma égua receptora ou ser congelado para utilização posterior, fazendo também com que haja um banco genético para os laboratórios que os detêm. Assim sendo, a ICSI se torna cada dia mais importante no meio da reprodução equina, mas com um caminho longo a ser seguido para a melhora dos índices atualmente alcançados.
Confira alguns vídeos sobre o processo:
Escrito por:
Renata Lozano, aluna ATP
Estudante de Medicina Veterinária
REFERÊNCIAS
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